25.4.13

Todo dia é dia de índio



Quem não se lembra dessa música da Cantadora Baby Consuelo que fez um enorme sucesso, a alguns anos atrás?



Inspirou-me na postagem dessa semana!






Índio é que vem de Índia-  quando Colombo chegou às Américas, pensava que tinha atingido a Índia e a partir daí nomeou os seus habitantes.

Os índios são portadores de uma sabedoria invejável que ainda estamos muito longe de alcançar...
Os Contos Indígenas tocam o nosso coração e nos ajudam a ultrapassar os desafios da vida, entre eles, eu destaco 'A PENA MÁGICA'. Depois que esse conto caiu em minhas mãos, tratei logo de arrumar uma pena mágica.  
Boa leitura !




"Era uma vez ,um pequeno índio da tribo Pareci, que se chamava Itaguirá.
Itaguirá era pequeno e fraquinho, diferente de seus amigos, que mesmo tendo a mesma idade, eram bem maiores e mais fortes. Alem disso, Itaguirá era muito medroso. Tinha medo de escuro, de água, de monstro, de bichos da floresta,  de trovão, do desconhecido e de muitas outras coisas. Seus amigos o chamavam de covarde. Enquanto os outros índios aprendiam com seus pais a caçar e a pescar ,Itaguirá ficava com as mulheres e as crianças pequenas.
O tempo foi passando e os amigos de Itaguirá foram ficando fortes, crescidos e corajosos. Itaguirá continuava pequeno, fraquinho e medroso. Por isso os amigos nem procuravam mais Itaguirá para brincar. As meninas índias também só admiravam os índios corajosos e nem olhavam para Itaguirá. Então, percebendo que estava sozinho e sem amigos ,ele ficou muito triste. Resolveu se abrir com sua avó; é com ela que ele conversava e contava seus segredos. A avó, depois de ouvi-lo disse "Itaguirá, o que um índio Pareci pode fazer, outro índio Pareci também pode – essa é a lei da selva que sempre existiu e sempre existirá ". Sua avó aconselhou-o a procurar o grande Pajé, o índio mais velho da aldeia, muito experiente e muito sábio; a todos aconselhava.
Itaguirá foi falar com o Pajé, a quem contou todos os seus problemas. O Pajé disse que viesse encontrá-lo no dia seguinte perto do Grande Rio. Na manhãzinha do outro dia Itaguirá foi se encontrar com o Pajé. Ele já o esperava; deu –lhe uma pena muito bonita e disse que a colocasse na testa, pois aquela era uma pena mágica, com muitos poderes e o ajudaria a ter coragem. Itaguirá colocou a pena na testa e então o Pajé apontou-lhe o rio sem dizer uma palavra.
"-Pajé !!! você está querendo dizer que é para eu pular no rio ? Mas eu não sei nadar...eu tenho medo de água...eu vou morrer afogado..."
"- Você não está com sua pena mágica ? Então não tenha medo, vá ." disse o Pajé.
Itaguirá viu que não tinha jeito e pulou no rio. Primeiro afundou direto. Lá no fundo ele viu como o rio era bonito...peixinhos coloridos nadavam e se escondiam atrás de plantas e pedras de todas as cores...quanta coisa ele havia perdido...mas quando começou a ficar sem ar, passou a se debater, mexendo braços e pernas e quando viu, subiu à tona. "Pajé , eu não morri !!!" Mas o Pajé continuou mostrando –lhe o rio e a outra margem. Itaguirá entendeu que ele lhe dizia para nadar até o outro lado. Ele então se lembrou que estava com sua pena mágica e resolveu arriscar. Foi se debatendo como pode e por fim chegou à outra margem. "Pajé ,consegui !!!" Mas ele não podia ficar naquele lugar; o jeito era nadar de volta para perto do Pajé e assim ele fez, com muito esforço. "Pajé ,essa pena é poderosa mesmo !"
Amanhã, esteja aqui bem cedo ,disse o Pajé.
No dia seguinte Itaguirá chegou cedo, muito animado, com sua pena na testa. O Pajé mandou –o pular novamente no rio e nadar até a outra margem e depois retornar. E assim sucessivamente todos os dias durante 60 dias. Ao fim desse tempo, Itaguirá já nadava muito bem, com muita desenvoltura e sem nem um tiquinho de medo.
Amanhã, disse o Pajé, eu quero encontrá-lo perto da Grande Montanha.
No dia seguinte, desconfiado e com muito medo, Itaguirá foi encontrar o Pajé.
Mas não esqueceu de levar sua pena mágica.
O Pajé assim que o viu fez um sinal para que ele subisse e escalasse a Grande Montanha.
"Pajé, você quer que eu suba?mas é muito perigoso...eu vou me machucar...posso despencar pela encosta...além disso acho que lá em cima tem um urso furioso..."
"Mas você tem a sua pena que o ajudará a ter coragem", disse o Pajé .
E Itaguirá resolveu arriscar. Foi subindo, se agarrando como podia às plantas, às pedras e mesmo se esfolando todo, depois de muito esforço conseguiu chegar no topo.
"Pajé!!! eu consegui!!! e aqui nem tem nenhum urso furioso e a vista é linda de se olhar!"
E Itaguirá foi descendo e escorregando pela encosta e chegou lá embaixo todo arranhado, com a tanga rasgada, mas feliz e orgulhoso.
No dia seguinte voltou ao mesmo lugar e durante 60 dias o Pajé mandou-o escalar a montanha. Nos últimos dias Itaguirá já não tinha a menor dificuldade em subir e descer.
" Pagé ,ainda bem que você me deu essa pena tão poderosa que me dá tanta coragem! ."
No outro dia Pajé encontrou Itaguirá e lhe disse "Hoje vamos realizar nossa terceira missão : você irá caçar um jacaré ."
"Jacaré ?!?!?! mas jacaré é o animal mais difícil de se caçar...ele vai me matar...não dá para a gente caçar uma paca ,um tatu...?"
"Itaguirá ,a sua pena vai ajuda-lo. Eu vou lhe dar um pedaço de pau; quando o jacaré abrir a boca, você deve colocar o pau na boca dele e assim ele não poderá mais fechá-la. Então ele vai começar a dar rabeadas e a saltar. Quando ele saltar, aqui está um facão, que você enterrará bem no coração do jacaré ."
Foram então para a lagoa. Itaguirá estava apavorado, mas como confiava na sua pena, resolveu se arriscar. Pulou dentro da lagoa e não demorou nadinha e já apareceu um jacaré imenso com a boca escancarada. Itaguirá enfiou o pedaço de pau naquela bocarra e o jacaré com dor e sem poder fechar a boca começou a saltar e rabear. Itaguirá esperou o melhor momento e zás! enfiou a faca bem no coração.
"Matei o jacaré ! Pajé, você viu ?"
O Pajé tudo observara e tinha um sorriso nos lábios.
Quando Itaguirá se curvou na lagoa para lavar o facão, ele viu sua imagem refletida na água límpida, e ficou muito admirado com o que viu. Ele havia se transformado num índio grande e muito forte. "Pajé, eu fiquei forte assim ? cheio de músculos ? "
"Claro Itaguirá, pois depois de todos esses dias de treinamento, você se desenvolveu e agora é tão forte, corajoso e grande como qualquer outro índio. Agora você está livre de mim e pode voltar à aldeia e rever seus amigos."
Itaguirá agradeceu muito ao Pajé e quis lhe devolver a pena mágica. Agora ele não precisava mais dela .Seus medos tinham acabado e ele se sentia cheio de coragem. O Pajé poderia dar a pena para um outro indiozinho medroso que aparecesse.
Porem o Pajé pegou a pena e jogou-a no rio. Itaguirá ficou desesperado. e quando se preparava para pular no rio e recuperar a pena, o Pajé lhe disse:
"Deixe-a ir Itaguirá. Essas pena não é mágica. É simplesmente a pena de uma arara que passou voando perto de mim e eu peguei porque achei bonita...Não foi a pena que lhe deu coragem...a coragem estava dentro de você; esteve sempre com você e você não sabia. Mas daqui em diante todas a vezes que precisar, você vai encontrá-la ."
Itaguirá voltou para a aldeia, para seus amigos, para sua casa. Passou então a ser admirado por todos e até arrumou uma namorada...a índia mais bonita de todas !
Voltou também para a casa da avó, que sorriu ao vê-lo e pensou consigo mesma: O que um índio Pareci pode fazer, outro índio Pareci também pode; essa é a lei da selva que sempre existiu e sempre existirá."



E para costurar essa colcha de retalhos vamos de Pé no Sofá...


O CASAMENTO ENTRE O CÉU E A TERRA 
- Contos dos povos indígenas do Brasil



Autor: Leonardo Boff
Editora: SALAMANDRA


Aprendamos, pois, da sabedoria dos índios, para convivermos bem entre nós e com a mãe natureza.”

Leonardo Boff

"Hoje nos encontramos numa fase nova na humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, à Terra: os povos, as sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e valores. Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente. (...)

(...) Vamos rir, chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra, vale dizer, como combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões para viver mais e melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum, generosa e bela, o planeta Terra."


Casamento entre o céu e a terra. Salamandra, Rio de Janeiro, 2001.pg 09


Um comentário:

  1. Adoro contar contos autorais com linguagem bem poética, mas fico uma meninazinha se escuto contos populares. Contar para crianças é uma delícias, mas para os maiorzinho de 50, fico toda encantamento com esses meninos, seus olhinhos pisca-piscando de alegria... Eu fico tão feliz que depois da história ainda digo poemas.

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